segunda-feira, 29 de junho de 2009

As veias abertas da América Latina

As Veias Abertas da América Latina

As Veias Abertas da América Latina

Autor: EDUARDO GALEANO

"O autor neste livro quebra a cronologia linear da historiografia oficial para desnudar o saque ao continente que persiste desde o descobrimento. Analisando os mecanismos de poder, os modos de produção e os sistemas de expropriação, Eduardo Galeano reescreve a história da América Latina e expõe os quinhentos anos de exploração econômica e miséria social. " (Prefácio de Isabel Allende)


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sábado, 27 de junho de 2009

Cultura do segredo

Transparência emperra no Brasil

Em meio a escândalos como o dos atos do Senado, cresce a pressão para que informações públicas sejam divulgadas no país.

O leitor quer saber o valor da conta de celular do presidente da República? Foi de R$ 164,81 entre março e abril. A informação faz parte da resposta dada pela Presidência a uma questão levantada por um cidadão e pode ser encontrada na internet. Isso no México, não no Brasil.

Lá, qualquer pessoa tem o direito de obter dos órgãos públicos dados como minutas de reuniões, resultados de programas ou despesas. O exemplo contrasta com o do Brasil, onde, além de não existir lei de acesso à informação, surgem escândalos como o dos 663 atos secretos do Senado.

Fatos assim só ocorrem porque vigora no Brasil uma cultura do segredo, alimentada pela ausência de limites entre público e privado. Essa mentalidade não significa sempre a tentativa de ocultação de atos por má-fé ou corrupção. Trata-se também da aceitação da ideia de escrutínio público.

– O funcionário público precisa se acostumar com a ideia de que o cidadão tem direito de perguntar, e ele, obrigação de responder. Muitas vezes, numa repartição, a primeira reação do funcionário é questionar para que queremos aquela informação – completa Paula Martins, coordenadora da ONG Artigo 19, que defende a ampliação do acesso a dados públicos.

Os avanços não ocorrem, porém, sem pressão. Apesar da existência de organizações como o Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas, Heloisa acredita que falta mobilização da sociedade. A cientista política da Universidade Federal de Goiás Heloisa Dias Bezerra argumenta que o brasileiro precisa desenvolver senso crítico para separar propaganda governamental de informação pública.

– Não vale só dar resultados positivos. O cidadão tem de ter saber dos erros de gestão, dos problemas, do que deu errado – considera.

Os defensores do acesso à informação gostam de lembrar uma frase de Louis Brandeis (1856-1941), juiz da Suprema Corte dos Estados Unidos:

– A luz do Sol é o melhor desinfetante.

A receita, cunhada no início do século passado, mostra seu vigor ainda hoje, como se vê no Senado.

leandro.fontoura@zerohora.com.br

Fonte: Jornal Zero Hora - nº 16014 - 28 de junho de 2009.

Charge do Jornal "O Nacional" de Passo Fundo - RS


Fonte: http://www.onacional.com.br/
Jornal O Nacional - Passo Fundo - RS - 27 de junho de 2009

sexta-feira, 26 de junho de 2009

quinta-feira, 25 de junho de 2009

"Eu não sabia de nada...". "Que país é esse?"

Afinal de contas, que país é esse?
"Não sei de nada..."
...e fica por isso mesmo.

Que País é Este

Legião Urbana

Composição: Renato Russo

Nas favelas, no senado
Sujeira pra todo lado
Ninguém respeita a constituição
Mas todos acreditam no futuro da nação
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
No Amazonas, no Araguaia iá, iá,
Na Baixada Fluminense
Mato Grosso, nas Gerais e no
Nordeste tudo em paz
Na morte o meu descanso, mas o
Sangue anda solto
Manchando os papéis e documentos fiéis
Ao descanso do patrão
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
Terceiro mundo, se for
Piada no exterior
Mas o Brasil vai ficar rico
Vamos faturar um milhão
Quando vendermos todas as almas
Dos nossos índios num leilão
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?


Não deixe de ver o vídeo.

Fonte: Jornal Zero Hora - Nº16011 - 25 de Junho de 2009.
http://www.youtube.com/watch?v=mcrCUkI88VQ

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Relativismo Moral (2)

11. Direitos humanos universais I

• A Declaração Universal dos Direitos Humanos tem raízes no século XVII. Em 1776, a Declaração de Independência dos Estados Unidos estabelece que os governos, como Locke defendia, se fundamentam no consentimento dos cidadãos, sendo obrigados a proteger os seus direitos.
• Ficou estabelecido que todos os homens são iguais em direitos, entre os quais o direito à vida, à liberdade e à procura de felicidade.
12. Direitos humanos universais II

Em 1789, com a Revolução Francesa, é aprovada uma Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, onde são consagrados os seguintes direitos fundamentais:
- Propriedade
- Segurança
- Resistência à opressão
- Liberdade religiosa
- Liberdade de expressão
- Participação política
13. Direitos humanos universais

• Em 1948, após a 2ª Guerra Mundial, a Organização das Nações Unidas aprovou a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
• Esta Declaração tem início com os seguintes dois artigos:
Artigo 1
Todos os seres humanos nasceram livres e iguais em dignidade e direitos. Dotados de razão e de consciência, devem relacionar-se uns com os outros em espírito de fraternidade.
Artigo 2
Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação. Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou território independente, sob tutela, autónomo ou sujeito a alguma limitação de soberania.
• Segundo a Declaração, ter direitos depende de ser uma pessoa e não de pertencer a esta ou àquela cultura.
14. O conflito

• A Declaração dos Direitos Humanos baseia-se na ideia de que os seres humanos têm direitos apenas por serem pessoas.
• Os relativistas defendem que a ideia de direitos humanos não passa uma ilusão, um produto da nossa cultura que não se aplica fora dela.
• Será que têm razão, que a existência de valores universais é um mito? O nosso objectivo é dar uma resposta a este problema
15. A posição relativista (de novo) I

• O relativismo moral defende que o bem e o mal são convenções sociais, próprias de cada cultura, ou seja, que existem regras e normas que valem apenas em cada sociedade.
• No relativismo moral não há verdades absolutas, pois tudo é relativo ao ponto de vista de cada sociedade. As verdades maioria são relativas porque apenas reflectem o que a maioria das pessoas aprova em cada sociedade.
16. A posição relativista (de novo) II

• Se o bem e o mal são apenas convenções sociais, que variam de cultura para cultura, então não existem verdades objectivas em moral, pois estas verdades são independentes de qualquer ponto de vista particular.
• Se numa sociedade o infanticídio for considerado um mal, isso não significa que o infanticídio seja em si mesmo errado; significa apenas que há nessa sociedade uma maioria de pessoas que o desaprova.
17. Um argumento a favor do relativismo moral

Argumento do juiz parcial
(1) Em ciência, quando há desacordos, os cientistas chegam a um consenso porque a verdade em ciência é objectiva.
(2) Em questões de ordem moral, como o aborto, o infanticídio, a eutanásia ou a pena de morte, não é possível chegar a um consenso sempre que há sempre desacordo. Não é possível ser imparcial quando diferentes culturas estão em confronto. Cada pessoa defenderá como correctas as normas da sociedade em que foi educada, e considerará errado o que lhe for oposto.
Portanto, os valores morais não são objectivos.
18. Análise: será este um bom argumento?

• A premissa 1 parece ser verdadeira. Acontecerá o mesmo com a premissa 2? A resposta é negativa.
• Esta premissa diz que uma pessoa educada numa determinada cultura defenderá sempre as normas dessa cultura contra todas as culturas que defenderem o inverso. Mas isto não tem de ser assim.
• Martin Luther King, por exemplo, foi educado numa sociedade racista. Mas defendia que o racismo é errado. Estaria, portanto, de acordo com qualquer outra sociedade que condenasse o racismo, mesmo que essa sociedade não fosse a sua.
• Este exemplo mostra que podemos avaliar as normas e valores de outras culturas sem cair numa defesa cega dos nossos próprios valores. De facto, King pensava que o racismo é errado objectivamente, isto é, que não se trata de uma questão de opinião ou ponto de vista. Quem pensasse o contrário estava errado.
19. Um argumento contra o relativismo.

Argumento da maioria preconceituosa
(1) O relativista moral defende que uma acção ser boa ou correcta significa apenas que essa acção é aprovada pela maioria das pessoas numa sociedade.
(2) O relativista pode ser acusado de a sua teoria levar ao conformismo.
(3) Por muito que alguém discorde da opinião da maioria das pessoas da sua sociedade, ou que esta opinião se baseie apenas em preconceitos, falta de informação e espírito crítico, temos de aceitar a opinião da maioria. É opinião da maioria que define o que é o bem.
(4) É o caso do racismo. Só o preconceito ou a falta de informação e sentido crítico é que podem levar uma sociedade a pensar que se justifica discriminar pessoas com base na cor da pele. Mas, se uma pessoa defender que é um bem tudo o que a sua sociedade aprovar, terá para ser coerente de considerar o racismo um bem se a sua sociedade aprovar o racismo.
Portanto, o relativismo moral obriga-nos a deixarmos de pensar pela nossa própria cabeça para seguir sempre a maioria (mesmo que a maioria não tenha razão). O que não faz sentido.

Paulo Andrade Ruas

2/2


Fonte: http://filosofiavivapro.blogs.sapo.pt/2009/05/08/

Relativismo Moral (1)

Serão os valores morais universais? Ou dependerão do ponto de vista de cada sociedade?

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1. Os dados do problema

• Diferenças de padrões culturais
• Declaração dos Direitos Humanos Universais
2. Padrões de cultura

• Os padrões de cultura são modos de pensar e agir comuns aos membros de uma sociedade; incluem as tradições, valores e regras de comportamento moral em vigor nessa sociedade, a maneira de vestir, os hábitos e regras de higiene, etc.
• Sociedades diferentes possuem diferentes padrões de cultura.
• Os padrões cultura variam no espaço e no tempo. No espaço porque diferentes culturas situadas em diferentes regiões geográficas podem caracterizar-se por diferentes modos de vida e cultura. No tempo porque a mesma sociedade pode ao longo da história sofrer mudanças significativas nos seus padrões de cultura: certas tradições podem desaparecer e serem substituídas por outras, certos comportamentos que antes não eram aceites passam a ser considerados normais, etc.
3. Exemplo A

• Nem em todas as sociedades humanas os casamentos são monogâmicos, isto é, efectuados entre duas pessoas apenas.
• Em certas regiões do Tibete e do Nepal (países asiáticos), uma mulher podia casar com mais do que um marido.
• Em muitos países do Norte de África, entre outros, um homem pode casar com mais do que uma mulher.
4. Exemplo B

• O infanticídio é considerado nas nossas sociedades como profundamente errado, ou seja, como moralmente inaceitável.
• Os esquimós, tal como os antigos romanos e alguns gregos, aceitavam o infanticídio e, em certas circunstâncias, consideravam-no desejável.
5. Exemplo C

• Na Índia, quando o marido morria, a cerimónia de cremação do cadáver incluía a obrigação de a viúva se lhe juntar, terminando assim a sua vida.
• Em muitos países, sobretudo africanos, ainda se pratica a excisão nas jovens raparigas, uma operação geralmente efectuada por familiares.
6. Exemplo C

• Os antigos gregos cremavam os seus mortos em pilhas funerárias. Este tipo de cerimónia era uma forma de prestar uma última homenagem ao falecido, manifestando o respeito e apreço dos familiares.
• Os catalinos, uma tribo originária da Índia, tinham como tradição comer os cadáveres dos seus familiares como forma de lhes prestarem a última homenagem.
• Este hábito foi relatado por Heródoto, um historiador grego antigo, que sublinhou o efeito de extrema repugnância que as tradições fúnebres catalinas tiveram sobre os gregos, bem como o desagrado e repugnância expressos pelos catalinos ao tomarem conhecimento dos hábitos fúnebre gregos.
• Diferentes padrões de cultura tendem a provocar reacções de rejeição mútua entre membros de diferentes culturas. O modo extremamente negativo como os gregos avaliaram as tradições catalinas (e vice-versa) levou Heródoto a concluir que a moral depende do ponto de vista de cada sociedade.
7. Relativismo moral

• As tradições, hábitos e costumes que caracterizam as diferentes sociedades (formas de vestir, de cozinhar os alimentos, regras de conduta) mostram que os códigos morais variam em vários aspectos de sociedade para sociedade.
• Alguns antropólogos, filósofos e historiadores têm defendido que estas diferenças são a prova de que não existem verdades objectivas no domínio da moral, isto é, verdades capazes de irem além dos limites de cada cultura ou sociedade, verdades que sejam independentes do ponto de vista de cada sociedade particular.
• Esta ideia implica que nenhum código de conduta está realmente certo e nenhum está realmente errado. Tudo depende da maneira de sentir e pensar de cada sociedade: os valores morais seriam relativos.
8. Relativismo moral e padrões de cultura

• Os valores morais apenas teriam aplicação no interior das fronteiras de cada cultura, não tendo qualquer validade fora delas.
• Ao rejeitar o infanticídio, a poligamia ou a poliandria, por exemplo, a nossa cultura não estaria mais próxima da verdade que as sociedades onde estes padrões de cultura se aplicam.
• Todos os códigos morais seriam relativos à sua cultura de origem, não havendo verdades universais: os valores seriam apenas convenções sociais, variando do espaço e no tempo.
• Tal como conduzimos à esquerda ou à direita segundo as convenções de cada país, nada há na natureza do infanticídio, por exemplo, que obrigue a considerá-lo um mal. Tudo depende das convenções de cada sociedade.
9. Relativismo e direitos humanos

A ideia de que o bem e o mal depende do ponto de vista de cada sociedade está longe de ser consensual. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, por exemplo, atribui a todos os seres humanos vários direitos de que estes devem beneficiar mesmo que a sociedade em que vivem não lhos reconheça.
10. Um caso português

Ontem houve uma notícia sobre a alegada discriminação de alunos ciganos numa escola em Barcelos. Edmundo Martinho, presidente da Comissão Nacional do Rendimento Social de Inserção, disse num colóquio que "não pode haver transigência no que respeita ao exercício de direitos das crianças e jovens. Aceitar que uma jovem mulher de 13 anos não vá à escola para não se encontrar com rapazes não é uma prática aceitável." Não o disse, mas estava a referir-se à comunidade cigana.
É pena que poucos falem com esta clareza sobre este assunto. Porque aquilo que se passa com as crianças ciganas nas escolas portuguesas é um autêntico crime, muitas vezes denunciado até dentro da comunidade. As meninas são afastadas da escola para não convive- rem com rapazes depois da 4.ª classe, e mesmo entre os rapazes são raros os que fazem mais do que o 10.º ano.
Isto é um atentado aos direitos humanos e devia levar-nos a levantar a voz. A denunciá-lo, como fazemos contra os hábitos islâmicos de discriminação das mulheres. Mas calamo-nos. Nem sequer fazemos referência à comunidade de que estamos a falar. E assim somos todos - jornalistas, assistentes sociais, técnicos de rendimento mínimo - cúmplices destas práticas. Tão perto de nós. Tão no meio de nós.
Diário de Notícias, Editorial de 19.03.09 (adaptado)
• Esta notícia levanta um problema filosófico importante:
- Será que os ciganos têm, ao proibir as suas filhas de frequentar a escola depois de uma certa idade, estão a violar um direito que as raparigas ciganas de facto têm (mesmo que não sejam capazes de o reconhecer)?
- Será que os direitos das raparigas ciganas são apenas aqueles que a sua sociedade lhes dá, e nada mais?
• Se respondermos “sim” à primeira pergunta, estamos a defender que os direitos que as pessoas têm ultrapassam as fronteiras da sua cultura. Estamos, ao que parece, a ir contra a perspectiva relativista.
• Se respondermos “sim” à segunda pergunta, estamos a pôr em causa a ideia de direitos universais.
Paulo Andrade Ruas
Cont. 1/2




Fonte: http://filosofiavivapro.blogs.sapo.pt/2009/05/08/

domingo, 21 de junho de 2009

Denúncia da verdade, por Flávio Tavares*

O que é denuncismo, essa palavra mágica com que os pilantras esperneiam para defender-se, quando alguma denúncia os atinge? Esse “ismo” final definirá alguma nova doutrina, tipo socialismo, liberalismo, comunismo ou integralismo? Nada disso!

O termo “denuncismo” é novo, não existia até bem pouco. Foi inventado por aqueles que se sentiam feridos (ou nus) ao aparecerem suas fraudes ou atropelos. Assim, impingiam a ideia de que a denúncia é uma doença, uma espécie de cardiopatia grave na vida em sociedade. Denunciar a pilantragem e a distorção da normalidade, ou o roubo e a violência truculenta, já não seria um dever nem uma imposição da solidariedade humana, mas uma “enfermidade a repelir”. E, como na farmacologia da vida não há antibióticos nem pílulas mágicas, o remédio passou a ser “denunciar o denuncismo”.

***

Dias atrás, lá do Cazaquistão, o presidente Lula da Silva considerou a atual maré de escândalos no Senado como fruto da “política do denuncismo”. Pôs em dúvida, até, a existência de contratações secretas, ignorando que o próprio presidente do Senado as admitira.

Entende-se que Lula da Silva seja fiel a Sarney e ao PMDB. Afinal, esse partido (sustentáculo do governo no Congresso) ocupa os ministérios mais importantes e manda no país. Mas é no mínimo esquisito que o presidente deixe de ser o “grande árbitro” e se atire a repetir essa tolice do “denuncismo”, como se fosse falante papagaio amestrado.

***

Na barafunda de podridão em que submerge o Senado, a frase com que José Sarney defendeu-se, em discurso, define tudo: “A crise não é minha, a crise é do Senado”. É certo. Os escândalos estouraram há anos, quando o senador-presidente Antonio Carlos Magalhães violou a votação eletrônica. Ou, depois, ao revelar-se que uma grande empresa de obras pagava as contas dos amoricos de Renan Calheiros, então presidente da excelsa Alta Câmara.

O que fizeram os demais senadores, além de discursos para contentar a revolta da opinião pública? Nada! Nem mesmo aqueles poucos pessoalmente inatacáveis (como Artur Virgílio, Aloizio Mercadante, Cristovam Buarque e Jarbas Vasconcelos) tentaram penetrar no cipoal de safadezas que, como ruminações, ecoavam pelos corredores do Congresso.

***

Denunciar a podridão ajuda a apodrecer? Ou leva a nos livrar do podre e impedir que se torne ainda mais nauseabundo?

Em nossa “democracia representativa”, o Legislativo é o poder mais visível: representa diretamente os cidadãos e pode ser acompanhado dia a dia. Mas ninguém, isoladamente, pode fiscalizar sequer os labirintos do Senado, recanto onde 81 senadores são servidos e guardados por 7 mil funcionários regiamente remunerados. Só os senadores podem fazê-lo.

***

Agora, depois do estouro da fortaleza secreta, vários senadores exigem apurar “as irregularidades”. Não há, porém, “irregularidades”, mas crimes. Os atos secretos são nulos em si: ao não aparecerem no Diário Oficial, formalmente, não existem.

Por que não se diz que “são nulos” os atos? Será porque, ao serem nulos em si, os implicados devem ser responsabilizados pelo crime? Os que assinaram, por corrupção e abuso de poder; os beneficiários, por corrupção passiva, devendo devolver as quantias recebidas, sejam empresas ou pessoas físicas.

Enfim, onde se refugia a realidade? Pode a verdade coabitar com a mentira? Se o denuncismo é uma esquisitez (outra palavra que não existe, mas perfeitamente inteligível), opto pelo “verdadismo”, para que, no futuro, uma medida provisória, aprovada pelo Congresso, não nos obrigue a denunciar a verdade como horripilante.


*Jornalista e escritor

Fonte: Jornal Zero Hora -
21 de junho de 2009 - N° 16007.

sábado, 20 de junho de 2009

O que move a greve na USP

O barulho de grupos de esquerda que não têm apoio
de professores nem de alunos dá a falsa impressão
de que a universidade entrou em colapso


Raquel Salgado

PARECE AULA, MAS É COMÍCIO Antonio Candido, de bigode, incita os estudantes ao "exagero". Marilena Chaui, ao microfone, confunde ditadura com democracia

VEJA TAMBÉM
Nesta reportagem
Quadro: A turma do fundão

A Universidade de São Paulo (USP) tem funcionários em greve há cinquenta dias. A paralisação começou com o sindicato dos servidores, que cobra aumentos salariais e anistia para seus líderes acusados de cometer crimes. Um mês depois, foi encampada pelas associações de professores e alunos. Quem observa de fora pode ter a impressão de que o movimento instalou o caos na maior instituição de ensino superior do país. Mas é só ir ao câmpus da USP em São Paulo para descobrir que o cotidiano lá pouco mudou. A maior parte dos 86.000 alunos e 5.400 professores continua frequentando aulas e ensinando. Além disso, uma parcela expressiva dos 15.500 funcionários – 30% do total – desempenha suas tarefas normalmente. Como em geral acontece nas universidades públicas, a greve da USP é restrita a grupos de representatividade limitada, ligados à esquerda radical, que disfarçam suas reivindicações muito particulares com a roupagem do interesse geral. As maiores assembleias feitas pelos grevistas não reuniram mais que 2% dos alunos, 5% dos professores e 3% dos funcionários.

O movimento só adquiriu corpo porque, neste mês, a reitora Suely Vilela convocou a polícia para dispersar piquetes armados em frente ao prédio da administração. Em sua gestão, iniciada no final de 2005, Suely Vilela não tem dado mostras de grande habilidade política. Mas a medida que tomou, mais que justificável, era um dever para alguém encarregado de zelar pelo patrimônio de uma instituição pública: há dois anos, alunos e os mesmos líderes dos servidores invadiram e ocuparam a reitoria por 51 dias, período no qual vandalizaram o prédio (uma das reivindicações dos grevistas, aliás, é a readmissão de Claudionor Brandão, um servidor demitido por justa causa por participar daquela depredação). Apesar disso, a presença da PM causou comoção. Os grevistas provocadores entraram em confronto com a polícia no dia 9. Cinco manifestantes e cinco PMs acabaram no hospital. Foi o pretexto para a adesão de intelectuais panfletários. As professoras Marilena Chaui e Maria Victoria Benevides participaram de um comício travestido de aula. "Exagerem. Sejam justos e injustos", exortou um Antonio Candido nada cândido que também deu as caras. A motivação ideológica de muitos grevistas – para os quais atingir o governo paulista é objetivo primordial – tornou-se evidente. Até mesmo o delegado Protógenes Queiroz, afastado da Polícia Federal por conduzir suas investigações de maneira irregular mas acolhido como herói por certa esquerda, tirou uma casquinha ao lado de um deputado do PSOL.

Na última quinta-feira, uma passeata na Avenida Paulista juntou 3 000 apoiadores da greve. Esse número nem de longe representa a maioria dos estudantes e dos docentes. Tampouco é unanimidade o "Fora PM" bradado pelos manifestantes. Na engenharia, por exemplo, 84% dos alunos gostariam que a PM fizesse rondas no câmpus para evitar estupros e assaltos. Tanto o slogan quanto o argumento de intelectuais como Marilena Chaui, de que a presença da polícia ameaça a liberdade de pensamento na universidade, denotam uma confusão mental digna dos relatórios do delegado Protógenes. "A PM que esteve na USP é muito diferente daquela que silenciava professores e alunos durante a ditadura militar. Desta vez, a polícia compareceu para dar proteção a um patrimônio que é de todos", diz o advogado Dalmo Dallari, ligado à esquerda.

Maior universidade do país, a USP fica apenas no 877° lugar em um ranking de mais de 1.200 instituições de ensino superior recém-consolidado com base nas informações do Scopus, entidade internacional que mede a eficiência da produção acadêmica mundial. Para muitos professores e alunos, até mesmo a ideia de aplicar o Enade à USP é anátema – o teste do Ministério da Educação afere a qualidade de ensino em cada universidade. Essa é a verdadeira lástima. E não a presença de policiais no câmpus para conter piqueteiros que gostariam de ver a USP transformada num bunker, livre de prestar contas à sociedade que investe nela.

Com reportagem de Gabriele Jimenez e Kalleo Coura


Fonte: Revista Veja - Edição 2118 - 24 de Junho 2009.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Política: a realidade da ficção, por Ben-Hur Rava*

Jovens não conheceram Justo Veríssimo ou Odorico Paraguaçu, dois personagens constantes nas noites da televisão brasileira nos anos 70 e 80.

Justo Veríssimo, criado e interpretado por Chico Anysio, era o estereótipo do político venal, arbitrário e impune, afeito às maracutaias do poder e da corrupção. Seus bordões sempre queriam que o povo se danasse, tal era seu desprezo pela coletividade.

Odorico Paraguaçu, genial criação de Dias Gomes, foi transposto da peça O Bem Amado para a novela homônima e, depois, para o seriado de muito sucesso. Esse personagem, ao seu turno, encarnava espírito político semelhante ao de Justo, porém, menos arrogante. Com postura folclórica, era dissimulado e estridente. A sutileza da sua ação política baseava-se na estratégia do mandonismo, da jagunçada, em que a megalomania de grandes obras deveria reverter em prestígio, fortuna e continuísmo no poder.

Os traços desses personagens fictícios em muito espelham a tradição política provinciana e coronelista, que provém dos grotões do Brasil.

Poder-se-ia dizer que, pela sua postura, seriam membros do mesmo partido. Um partido que opera a lógica do interesse privado em detrimento do público, do autointeresse ao invés do interesse social. O que vale é a sobrevivência política – sua e de seu grupo de apaniguados –, custe a quem, e quanto, custar. A expressão que os caracteriza é que “se lixam para a opinião pública” .

Os coronéis da política nacional têm lastreado seu poder para além do quadro político interiorano, surgido em engenhos e estâncias do Brasil rural e que migrou para os centros urbanos com a ideia de burguesia nacional. Consolidaram estruturas de poder econômico que gravitam em torno das barganhas e acordos espúrios, nos quais a moeda de troca é o favor, o apadrinhamento, a distribuição de cargos que sustentam seus ganhos.

Sempre dispõem de estruturas políticas fechadas, em que os partidos são extensão da sua “casa-grande”. Tratam correligionários com benesses e indulgência. Os adversários, tratam com intimidação e represália, na máxima de Júlio de Castilhos, na República Velha: “Aos amigos tudo, aos inimigos, a lei!”.

A citação desses personagens me fez lembrar que a ficção, quase sempre, alimenta-se da realidade. Assim, qualquer semelhança com personagens atuais não é mera coincidência.

*Professor universitário e advogado

Fonte: Jornal Zero Hora - nº16005 - 19 de junho de 2009.

O samba da mais-valia

Samba criado por Sergio Silva, gravado no início de 2005, foi grande sucesso carnavalesco, especialmente em Minas Gerais. "Top hit" nas rádios livres do mundo inteiro, com diversas indicações pro Emmy, só ganhou mesmo foi um café com pão de queijo e nada de capital.



Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=l5Il0h5

quinta-feira, 18 de junho de 2009

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Um Toque de Clássicos - Marx, Durkheim e Weber


Um Toque de Clássicos - Marx, Durkheim e Weber
de TANIA QUINTANEIRO, MARIA LIGIA DE OLIVEIRA BARBOSA, MARCIA GARDENIA MONTEIRO DE OLIVEIRA
Editora Ufmg



Descrição: Através da abordagem de tópicos fundamentais da obra de Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber, Um toque de clássicos busca facilitar aos leitores o acesso ao pensamento desses três grandes teóricos da Sociologia. Através do uso de citações e de sua análise sistemática, esse livro oferece uma coerente visão de conjunto, ampliando seu foco de abrangência a textos menos divulgados; Obra rara e esgotada.

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domingo, 14 de junho de 2009

sábado, 13 de junho de 2009

Solidariedade zero

Isso acontece todos os dias, onde está a nossa solidariedade?

Será que não somos mais capazes de nos colocarmos no lugar do outro?

Por que agimos assim?

Leia e reflita sobre essa crônica :


Solidariedade zero

Por Walcyr Carrasco

Estou na podóloga. Jogamos conversa fora enquanto ela ajeita minhas unhas. Como de praxe, falamos sobre assaltos, tão comuns no dia a dia do paulistano. Recentemente, conta ela, assistiu a um, em frente ao seu salão: três rapazes arrombaram um carro, sem se importar com o alarme, depenaram e fugiram. Fico espantado.

- Você não chamou a polícia?

- Eu não! Tive medo de que eles descobrissem e se vingassem mais tarde.

Observo a rua. Há uma banca de revistas, dois bares e prédios com porteiros devidamente protegidos por grades. Indago:

- Como saberiam, se você está aqui dentro?

- Ah, não sei... Mas o homem da banca disse que eu fiz bem.

É uma atitude frequente. Assaltantes cometem violências diante de testemunhas que desviam o olhar. Nos semáforos, enquanto alguém é roubado, os outros motoristas ficam em silêncio, imóveis. Raramente alguém chama a polícia. Ao sair de um caixa automático de um banco, à noite, certa vez um conhecido testemunhou o que poderia ser um sequestro-relâmpago. Uma jovem em lágrimas era levada para dentro de um carro, onde já havia um motorista esperando. Surpreendi-me:

- Ficou quieto? Não fez nada?

- E se fosse só uma briga de família? Com que cara eu ia ficar?

- Se a moça estava chorando e sendo forçada a entrar no carro, mesmo pelo marido, você teria feito muito bem em pedir socorro - respondi.

Recebi de volta uma expressão de desagrado.

As pessoas preferem se abster. Pior: às vezes ficam aliviadas, por não serem elas mesmas as vítimas. Somem de cena, voam para seus carros, enquanto alguém se rala. Dia desses uma amiga comentou, falando de outra:

- Estava conversando no celular no meio da rua. Também, pediu para ser assaltada!

Além de ser roubada, a pessoa ainda leva a culpa? É um jeito muito maluco de encarar a situação. Mas comum. Recentemente, um conhecido comentou:

- Fui assaltado quando passeava no bairro de noitinha. A culpa foi minha, porque aquela rua é muito vazia.

Foi assaltado e a culpa é dele mesmo? Estava andando em um local cheio de prédios, com porteiros e zeladores que assistiram impávidos à violência.

O descaso se estende até a situações onde não há violência explícita. Certa vez, na Rodovia Raposo Tavares, passei por um carro parado na pista do meio. O motorista caído sobre o volante. Os veículos desviavam. Impossível parar e atravessar a pista para ajudar, devido ao trânsito. Acelerei até o posto rodoviá-rio. Pedi socorro, mais por desencargo de consciência. Estava certo de que muitos outros já haviam feito o mesmo. Coisa nenhuma! Ninguém tinha se dado ao trabalho de avisar!

Não me julgo um exemplo. Só tento me colocar no lugar da pessoa. Como me sentiria se me roubassem e todo mundo fingisse não ver? Há maior solidão do que essa? No entanto, abandonar o próximo em uma situação difícil não é uma total falta de compaixão?

Sinto que o cidadão trocou a segurança pela burrice. Durante o papo com a podóloga, questionei:

- E se todo mundo, você, o revisteiro, o pessoal dos bares, os porteiros, chamasse a polícia todas as vezes em que houvesse um assalto?

Ela me olhou admirada. Concluí:

- Em pouco tempo a situação iria se inverter. Os ladrões deixariam de roubar por aqui.

Ela suspirou e terminou de lixar minhas unhas. Prometeu que vai mudar de atitude. Será? Fui embora com a sensação de que a vida na metrópole será muito melhor quando cada um descobrir que se tornará mais forte ao ajudar o próximo.


Fonte: Revista Veja São Paulo - Edição 2117 - 17 de junho de 2009

sexta-feira, 12 de junho de 2009

A Morte Devagar


Por Martha Medeiros


Morre lentamente quem não troca de idéias, não troca de discurso, evita as próprias contradições.

Morre lentamente quem vira escravo do hábito, repetindo todos os dias o mesmo trajeto e as mesmas compras no supermercado. Quem não troca de marca, não arrisca vestir uma cor nova, não dá papo para quem não conhece.

Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru e seu parceiro diário. Muitos não podem comprar um livro ou uma entrada de cinema, mas muitos podem, e ainda assim alienam-se diante de um tubo de imagens que traz informação e entretenimento, mas que não deveria, mesmo com apenas 14 polegadas, ocupar tanto espaço em uma vida.

Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o preto no branco e os pingos nos is a um turbilhão de emoções indomáveis, justamente as que resgatam brilho nos olhos, sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho, quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não acha graça de si mesmo.

Morre lentamente quem destrói seu amor-próprio. Pode ser depressão, que é doença séria e requer ajuda profissional. Então fenece a cada dia quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem não trabalha e quem não estuda, e na maioria das vezes isso não é opção e, sim, destino: então um governo omisso pode matar lentamente uma boa parcela da população.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante, desistindo de um projeto antes de iniciá-lo, não perguntando sobre um assunto que desconhece e não respondendo quando lhe indagam o que sabe. Morre muita gente lentamente, e esta é a morte mais ingrata e traiçoeira, pois quando ela se aproxima de verdade, aí já estamos muito destreinados para percorrer o pouco tempo restante. Que amanhã, portanto, demore muito para ser o nosso dia. Já que não podemos evitar um final repentino, que ao menos evitemos a morte em suaves prestações, lembrando sempre que estar vivo exige um esforço bem maior do que simplesmente respirar.



Sobre a autora:
Martha Medeiros nasceu em Porto Alegre em 1961. Formada em Publicidade. Escreveu livros de poesias e de crônicas, seu mais recente lançamento é o livro de ficção: Divã. Martha é cronista do jornal Zero Hora.


Poesia apresentada no programa 97

Os poemas e os textos lidos em "Provocações” são, às vezes, livre adaptação do original, por Antônio Abujamra ou Gregório Bacic. O formato em que se apresentam escritos aqui é apropriado para a leitura em TV e não o seu formato original.


Fonte:http://www.tvcultura.com.br/provocacoes/poesia.asp?poesiaid=11

quinta-feira, 11 de junho de 2009

O Vaivém dos Helicópteros

Por Maria Lucia Barbosa

A tragédia do voo 447 da Air France continua a repercutir de forma incessante. Dia e noite as TVs se revezam no afã de apresentar o que até agora é inexplicável. Não existem explicações para a causa da queda do avião, uma espécie de Titanic voador mais que perfeito. Não há ainda identificação dos corpos achados. Não foi localizada a caixa preta e é difícil que o seja.

Apenas permanece o horror das vidas ceifadas na celeridade de poucos minutos. Soam advertências de como carreiras promissoras, promessas de felicidade, sonhos são sepultados inexoravelmente no túmulo imenso e frio do oceano. A tragédia coletiva relembra de como somos frágeis e impotentes diante da morte.

O terrível acidente, entretanto, é mais do que luto e dor. Serve ao propósito de acobertar fatos inconvenientes para o governo, distrai atenções, alimenta conversas. Não se fala mais da gripe suína. Desapareceram como por encanto dos noticiários as enchentes do nordeste com suas vítimas anônimas. Não se toca na tragédia pessoal dos que morrem cruelmente sem atendimento em corredores de hospitais inadequados.

Omite-se o aumento da violência urbana, a ser incrementada especialmente no Rio Grande do Sul porque juízes decretaram que bandido nenhum vai preso porque faltam prisões. Ninguém sabe como anda o caso Cesare Battisti, o terrorista e assassino italiano que o Brasil teima em proteger.

Assuntos, escândalos, espantos aparecem, somem e se perdem rapidamente na memória coletiva, que de resto retém muito pouco do que é noticiado. Desse modo, é de duvidar que ainda se pergunte: Existe mesmo um membro da alta hierarquia do Al-Qaeda vivendo em São Paulo? É verdade que a China tomou nosso comércio com a Argentina, apesar dos negócios da China que Lula da Silva foi fazer com pompas e honras naquelas terras distantes onde autoridades estão se lixando para direitos humanos?

Aquele deputado castelão sofreu alguma punição ou foi mais um a se safar entre mensaleiros, sanguessugas, falcatruas num Congresso onde Renan Calheiros é exemplo a ser seguido, e o senador Sarney não sabe se recebe auxílio moradia sem disto necessitar? E sobre a CPI da Petrobrás, que inspira terror pânico aos companheiros presidenciais, vai ser de novo adiada por manobras governamentais? Vai acabar em nada como todas as outras? Para trás, sem abrir, vão ficando as caixas pretas da política nacional.

Além do terrível acidente do Airbus da Air France prevalece no momento outro assunto que entretém a massa: a Copa de 2014. Já se nota que serão cinco longos anos de massacrante e tediosa propaganda. Pão e circo funcionavam na Roma Antiga.

No Brasil Futebol e cerveja bastam para a felicidade geral. Diga-se de passagem, que parecemos um país de bêbados, pois em quase todos os acidentes de trânsito se diz que o chofer estava bêbado, como no caso do deputado estadual paranaense, Fernando Ribas Carli Filho que, bêbado, matou dois rapazes e, certamente, ficará impune.

Contrastando com a overdose sobre o acidente aéreo a indiferença do presidente da República. Bem diferente na França onde o presidente Sarkozy, pessoalmente, prestou solidariedade às famílias das vítimas. Lula da Silva estava viajando para variar quando ocorreu a tragédia, mas mesmo em sua volta preferiu enviar seu dedicado chanceler Celso Amorim para prestar condolências em missa celebrada em memória dos que se foram. Tampouco Marco Aurélio Garcia, o mentor de nossa desastrada política externa, se pronunciou. Ainda bem, pois poderia fazer gestos obscenos.

Destacou-se no sinistro episódio o ministro da Defesa, Nelson Jobim, nosso “general da banda” que, fissurado por fardas as enverga sem a menor cerimônia. Idiólatra por natureza, falastrão por excelência, o ministro deixou correr a imaginação e pontificou para o mundo sacudindo uma vareta professoral.

Diferente de suas inspeções em navios, quando deu aulas sobre o que não entende, a fala teve repercussão em outros países, mas não como desejava o ministro, pois foi tachado de “bavard”. Mais um vexame para nosso bestialógico internacional já bem recheado com os discursos presidenciais.

Na TV, entre helicópteros trazendo restos das vítimas, eis que surge o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Em mais um malabarismo verbal ele saudou a queda do PIB no primeiro trimestre, dizendo que foi menor do que esperava. Aproveitou e renovou a promessa de que no próximo trimestre tudo será melhor.

O ministro que afirmou que o Brasil cresceria 5% em 2009, não se peja em cair constantemente em contradição. Afinal, quem vai se lembrar do que ele disse? Vale a palavra do presidente: é marolinha e ponto final.

Com Dilma ou Lula em terceiro mandato o PT pretende continuar no poder. Seus marqueteiros sabem que fatos são apenas versões, que mitos podem ser construídos com pinceladas de grossas mentiras. O PT se superou na arte da manipulação e compreendeu que opinião pública não existe. Portanto, para que respeito às vítimas do voo 447 e aos seus familiares? Basta mostrar o vaivém sinistro dos helicópteros e os futuros e virtuais estádios da Copa 2014.

Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga.


Leia também: Edição de Artigos de Quinta-feira do www.alertatotal.net

Fonte: Blog Alerta Total - Data 11/06/2009

quarta-feira, 10 de junho de 2009

A gente se acostuma. Eis a questão!


A GENTE SE ACOSTUMA

Marina Colassanti

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos e não ver vista que não sejam as janelas ao redor. E porque não tem vista logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora, logo se acostuma e não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, se esquece do sol, se esquece do ar, esquece da amplidão.

A gente se acostuma a acordar sobressaltado porque está na hora. A tomar café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder tempo. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E não aceitando as negociações de paz, aceitar ler todo dia de guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: “hoje não posso ir”. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisa tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que se deseja e necessita. E a lutar para ganhar com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagará mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar nas ruas e ver cartazes. A abrir as revistas e ler artigos. A ligar a televisão e assistir comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição, às salas fechadas de ar condicionado e ao cheiro de cigarros. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam à luz natural. Às bactérias de água potável. À contaminação da água do mar. À morte lenta dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinhos, a não ter galo de madrugada, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta por perto.

A gente se acostuma a coisas demais para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta lá.
Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente só molha os pés e sua o resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito que fazer, a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem muito sono atrasado.

A gente se acostuma a não falar na aspereza para preservar a pele. Se acostuma para evitar sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito.

A gente se acostuma para poupar a vida.

Que aos poucos se gasta, e que, de tanto acostumar, se perde de si mesma.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Minha urna...


Sua casa, minha urna...

Fonte: http://www.prosaepolitica.com.br/images/posts/charge_126032009085326.jpg

segunda-feira, 8 de junho de 2009

O poder transforma o ser humano


Pergunto:
Por que cada "ser humano" quer levar vantagem em tudo?
Acaba indo contra os seus princípios, só para levar vantagem.
Por que somos tão gananciosos ?
Na política, todos falam que quando "chegarem lá" , não serão iguais aos que estão no poder.
Na prática o poder sobe a cabeça.
O que tem por trás do poder?
Esse poder que transforma cordeirinho em lobo mau.
Para ter uma noção de como o poder transforma, assista o filme alemão: "A Experiência"

Título: A EXPERIÊNCIA (Das Experiment / The Experiment - Alemanha - 2001).
Duração: 124 min.
Direção: Oliver Hirschbiegel
Roteiro: Don Bohlinger, Christoph Darnstadt e Mario Giordano


É interessante como o ser humano muda seu jeito de pensar e agir conforme a sua colocação na sociedade também é mudada, uma boa mostra disso está no filme alemão "A Experiência" (2001) do diretor Oliver Hirschbiegel, onde um grupo de 20 presidiários é recrutado para uma experiência psicológica, onde todos serão divididos entre guardas e presos numa penitenciária.

Baseado em uma história real, chamada "Experiência da Prisão de Stanford", é visto como o comportamento dos presos é modificado após mesmo sendo uma experiência alguns deles assumem o cargo de guardas e outros continuam como presos, amizades a parte, o poder sobe a cabeça e os detentos (guardas) cometem o mesmo "erro" que achavam que sofriam. Este filme foi o representante alemão do Oscar 2002 de melhor filme estrangeiro.

Fonte: Charge - Jornal Zero Hora - Nº 15994 - 08 de Junho de 2009 -
iotti@zerohora.com.br
http://blogs.abril.com.br/asetimaarte/2009/02/filme-semana-experiencia.html

sábado, 6 de junho de 2009

Desgraças... são verdadeiros milagres para o governo


... enquanto isso, acontecem coisas estranhas. E ninguém toma conhecimento.
A ficha ainda não caíu!!!

Fonte: 05 de junho de 2009 - N° 15991 - Informe Especial - Marco Aurélio.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Esquerda e direita

Uma certa universitária cursava o sexto semestre da Faculdade. Como é comum no meio universitário, ela estava convencida de que era de esquerda e estava a favor da distribuição da riqueza.

Tinha vergonha de que o seu pai fosse empresário e conseqüentemente de direita, portanto, contrário aos programas socialistas e seus projetos que davam benefícios aos que mais necessitavam e cobrava impostos mais altos para os que tinham mais dinheiro.

A maioria dos seus professores e alunos sempre defendiam a tese de distribuição mais justa das riquezas do país.

Por tudo isso, um dia, ela decidiu enfrentar o pai.

Falou com ele sobre o materialismo histórico e a dialética de Marx, procurando mostrar que ele estava errado ao defender um sistema tão injusto e perverso como a direita pregava.

Seu pai ouviu pacientemente, como só um pai consegue fazer, todos os argumentos da filha e no meio da conversa perguntou:

- Como você vai na faculdade?

- Vou bem, respondeu ela. Minha média de notas é 9, estudo muito mas vale a pena. Meu futuro depende disso, eu sei !

- Não tenho vida social, durmo pouco, mas vou em frente.

O pai prosseguiu:

- E aquela tua amiga Sônia, como vai?

E ela respondeu com muita segurança:

- Muito mal. A sua média é 3, ela passa os dias no shopping e namora o dia todo.

- Pouco estuda e algumas vezes nem sequer vai às aulas. Acho até que ela é meio burra .

- Com certeza, repetirá o semestre.

O pai, olhando nos olhos da filha, aconselhou:

- Que tal se você sugerisse aos professores ou ao coordenador do curso para que sejam transferidos 3 pontos das suas notas para as da Sônia?

- Com isso, vocês duas teriam a mesma média.

- Não seria um bom resultado para você, mas, convenhamos, seria uma boa e democrática distribuição de notas para permitir a futura aprovação de vocês duas.

Ela indignada retrucou:

- PORRA nenhuma!!! Trabalhei muito para conseguir essas notas , enquanto a Sônia buscava o lado fácil da vida.

- Não acho justo que todo o trabalho que tive seja, simplesmente, dado a outra pessoa.

Seu pai, então, a abraçou, carinhosamente, dizendo:

- BEM-VINDA À DIREITA !!!


Fonte: recebi por e-mail do meu colega prof. Paulo.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Migalhas...


Esmola, migalhas são a realidade... não é necessário esperar 2014.
2014???? O que será???

Fonte: http://jboscocartuns.blogspot.com/
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