domingo, 20 de setembro de 2009

Herói sem nome: o peão da guerra!, por Antonio Marcelo Pacheco*

Todas as culturas apresentam os seus mitos e símbolos. Independentemente do objetivo que se dê a esses mitos, o sujeito coletivo busca se construir na constante reificação de sua história. Esse é o caso da Revolução Farroupilha, que esperamos mais uma vez comemorar.

Tal revolução, contada e recontada a partir de variados interesses, encarna uma idealização, uma imagem de nossa tradição que necessariamente não reflete toda a verdadeira faceta daquele longo conflito de 10 anos. Entre caudilhos e imperiais, entre uma política econômica do charque e pretensões confusas de ideias republicanas, construímos uma trajetória histórica de independência, orgulho e tradições originalmente únicas. Mas o 20 de Setembro é muito maior do que o culto a Bento, Garibaldi, Anita, Canabarro etc. Essa data é do anônimo guerreiro conhecido por peão. Qualquer peão que, acompanhando o estancieiro, lutou essa guerra sem nem mesmo ter condições de compreendê-la.

É o peão, sem nome específico e sem sobrenome destacado, que figura cavalgando pelo campo do Rio Grande, lutando numa guerra que não é sua, mas que se fez sua na medida em que a relação entre ele e o caudilho era pessoal, marcada pela honra, pela fidelidade e no compromisso da hierarquia e da disciplina. É na aurora dessa revolução que reluzem os peões de todos os cantos de nosso Estado, carregando não o sonho de uma liberdade que nem mesmo é abolicionista, mas que é libertária quanto à ideia do gaúcho, do pampa, do centauro que se confunde com a lenda, do guerreiro que a cavalo é senhor de sua própria estrada.

O 20 de Setembro é mais do que o cerimonial oficial, maior do que os personagens principais desse ato que confrontou o império e o imperador, mais significativo do que uma ideia geral de República que muitos à época não podiam efetivamente compreender. Nessa data, maragatos e pica-paus, castilhistas e borgistas, esquerda e direita, se unem para retocar o fato, a revolução, geralmente esquecendo-se do herói humilde, mas que rebrilha nas cores de nossa bandeira: o peão, verdadeiro senhor dessa história esquecida que começou e terminou da mesma maneira para ele: na honra de seguir o caudilho, na guerra e na paz.

Eis mais um 20 de Setembro. Que do silêncio do campo surja esse cavaleiro, “Cambará” na guerra, “Terra” na paz, vento no tempo da história dessa Revolução Farroupilha!


*Professor de Direito

Fonte: Jornal Zero Hora - nº16100 - 20 de Setembro de 2009.

Recomendo:
Leia mais sobre as comemorações da Semana Farroupilha no:
Jornal Zero Hora na edição online
Site da Semana Farroupilha

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