quinta-feira, 9 de julho de 2009

A democracia ao estilo brasileiro, por Jorge Carlos Mastroberte*

Para entender um pouco sobre os acontecimentos que dizem respeito à gestão e trato da coisa pública na órbita do Distrito Federal, que diariamente são veiculados na imprensa falada e escrita do país, e que causam estranheza, indignação e perplexidade para alguns, creio ser necessário possuir uma noção prévia sobre as origens, características, estágio econômico e cultural dos heterogêneos centros populacionais que compõem o território brasileiro. Uma visita às páginas que registraram os acontecimentos políticos das últimas décadas do século 20 ajuda a esclarecer como chegamos à situação atual.

Em razão dos diferentes currículos de vida dos representantes eleitos pelo voto depositado nas urnas, oriundos de diversas partes do país, os quais têm que conviver e discutir suas ideias no tocante à melhor forma de gerir a coisa pública em benefício de toda a nação, é normal que ocorra um choque de culturas e modo de interpretação da realidade nacional. A maioria só tem conhecimento sobre os fatos locais da sua região.

A maneira de ver, sentir e agir diante das circunstâncias que se apresentam no dia a dia da vida é própria de cada indivíduo, e com raras exceções não está relacionada com o ambiente em que ele foi criado e passou a ter as primeiras noções do mundo ao seu redor. Na nossa terra natal sempre agimos de determinada forma, com poucas ponderações por parte de terceiros. Por qual motivo haveríamos de mudar justamente agora que estamos no comando? Afinal, foi o povo que nos elegeu para trabalharmos em prol dos seus interesses na Capital Federal.

Para boa parte do povo brasileiro que habita as regiões menos desenvolvidas é irrelevante o regime político em vigor, o que realmente importa para eles é ter comida, água potável, saneamento básico e luz elétrica. Quem vai receber os votos depositados nas urnas serão os candidatos que prometerem atender a essas expectativas.

O contexto político de algumas regiões do Estado brasileiro em muito se assemelha com o que está acontecendo na Venezuela de Hugo Chávez. Tudo se justifica se for para ajudar os campesinos. Os incomodados que se retirem ou serão retirados.

Em Brasília, não são muitos os grandes empreendimentos privados que possam pagar bons salários. A solução para ajeitar os afilhados é arrumar um “cargo inominado” para fazer qualquer coisa que justifique o desembolso de caixa. O empecilho é a malvada da imprensa, que fica divulgando coisas secretas.

As regiões do Brasil onde a economia e a cultura locais da população estão próximas de atingir patamares de Primeiro Mundo é de onde são arrecadados aproximadamente 70% dos tributos federais, que há décadas escutamos dizer que são destinados para o desenvolvimento e ajuda às populações que habitam as regiões menos desenvolvidas. A realidade daquelas localidades continua a mesma de anos atrás. Quem já era rico ficou mais ainda. As populações carentes continuam trabalhando sol a sol para ter o que comer.

Para tentar mudar este quadro, existem alguns caminhos, um deles nada fácil de ser efetivado, embora não impossível, pois ensejaria mudanças no texto constitucional no que tange à forma de participação dos Estados no número de deputados e senadores. O outro caminho que se mostra viável é a população participar e exigir maior transparência, autonomia e efetividade na aplicação das receitas públicas. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio dos representantes eleitos ou diretamente se assim desejar. Os cidadãos não podem ficar à mercê dos interesses partidários.

*Auditor público do TCE-RS

Fonte: Jornal Zero Hora - nº16024 - 08 de Julho de 2009.

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