segunda-feira, 30 de março de 2009

Sociologia 1º Ano - Espírito Científico


Por Francisco Saiz

"La ciencia reconoce problemas eternos, pero rechaza las respuestas eternas" (Margenau)

O homem é um ser que faz questionamentos existenciais, e que tem que interpretar a si e ao mundo em que vive, atribuindo-lhes significados. Cria representações significativas da realidade, as quais chamamos conhecimento.

O conhecimento, dependendo da forma pela qual se chega a essa representação, pode ser classificado em diversos tipos como, por exemplo, mítico, ordinário, dogmático e científico.

O conhecimento científico é o que é produzido pela investigação científica, através de seus métodos. Surge não apenas da necessidade de encontrar soluções para problemas de ordem prática da vida diária, mas do desejo de fornecer explicações sistemáticas que possam ser testadas e criticadas através de provas empíricas.

A investigação científica se inicia quando se descobre que os conhecimentos existentes, originários quer do senso comum, quer do corpo de conhecimentos existentes na ciência, são insuficientes para explicar os problemas surgidos. O conhecimento prévio que nos lança a um problema pode ser tanto do conhecimento ordinário quanto do científico.

Quando o homem sai de uma posição meramente passiva, de testemunha dos fenômenos, sem poder de ação ou controle dos mesmos, para uma atitude racionalista e lógica, que busca entender o mundo através de questionamentos, é que surge a necessidade de se propor um conjunto de métodos que funcionem como uma ferramenta adequada para essa investigação e compreensão do mundo que o cerca. O homem quer ir além da realidade imediatamente percebida e lançar princípios explicativos que sirvam de base para a organização e classificação que caracteriza o conhecimento.

Através desses métodos se obtém enunciados, teorias, leis, que explicam as condições que determinam a ocorrência dos fatos e dos fenômenos associados a um problema, sendo possível fazer predições sobre esses fenômenos e construir um corpo de novos enunciados, quiçá novas leis e teorias, fundamentados na verificação dessas predições, e na correspondência desses enunciados com a realidade fenomenal.

O método científico permite a construção conceitual de imagens da realidade que sejam verdadeiras e impessoais, passíveis de serem submetidas a testes de falseabilidade.

A ciência exige o confronto da teoria com os dados empíricos. A teoria deve poder ser submetida a um exame crítico. Segundo Popper, "um enunciado científico é objetivo quando, alheio às crenças pessoais, puder ser apresentado à crítica, à discussão". Um enunciado científico, construído mediante hipóteses fundadas em teorias, deve poder ser contrastado com a realidade, deve poder ser submetido a testes, em qualquer época e lugar, e por qualquer pessoa.

Isso faz com que a investigação científica estimule a criar fundamentos mais sólidos e a testar suas hipóteses de uma forma mais rígida e controlada.

A ciência se vale da crítica persistente que persegue a localização dos erros, através de procedimentos rigorosos de testagem que a própria comunidade científica reavalia e aperfeiçoa constantemente. Esse método crítico de constante localização de dificuldades, contradições e erros de uma teoria, garante à ciência uma confiabilidade.

Popper afirma que "uma explicação é algo sempre incompleto; sempre podemos suscitar um outro por quê, e esse novo por quê talvez leve a uma nova teoria, que não só explique, mas corrija a anterior". Essa auto-crítica sistemática da ciência, que muitas vezes conduz a uma reformulação de teorias, leva dogmáticos a afirmações injustas como: "a ciência nunca tem certeza de nada, o que ontem era verdade para ela hoje já não é mais". Estão certos quanto ao fato de que algumas verdades de ontem não serem mais aceitas hoje. Mas pecam quando generalizam, dizendo que a ciência nunca tem certeza de nada, ou vêem aí uma fragilidade. Ao contrário, é justamente por estar submetida a constantes retomadas de revisões críticas, que uma teoria científica é aperfeiçoada e corrigida, garantindo seu enriquecimento e confiabilidade.

O oposto ao espírito científico é o dogmático, que bloqueia a crítica por se julgar autosuficiente e clarividente na sua compreensão do mundo, e acaba por impedir eventuais correções e aperfeiçoamentos, muitas vezes induzindo ao erro, fraudes, ignorância e comportamento intolerante. É, portanto, errôneo achar que a dogmatização de um conhecimento é superior só porque é imutável.

O verdadeiro espírito científico consiste, justamente, em não dogmatizar os resultados de uma pesquisa, mas em tratá-los como eternas hipóteses que merecem constante investigação.

Ter espírito científico é estar, sobretudo, numa busca permanente da verdade, com consciência da necessidade dessa busca, expondo as suas hipóteses à constante crítica, livre de crenças e interesses pessoais, conclusões precipitadas e preconceitos.

Embora não se possa alcançar todas as respostas, o esforço por conhecer e a busca da verdade continuam a ser as razões mais fortes da investigação científica.

Francisco Saiz é professor de lógica e programação da Fundação Paula Souza, formado em Ciência da Computação pela Universidade Mackenzie, e aluno de mestrado em Inteligência Artificial no Instituto de Pesquisas Energéticas Nucleares da USP - Universidade de São Paulo

Fonte: http://br.geocities.com/perseuscm/espiritocientifico.html


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